Elas estão desconstruindo o patriarcado: conheça o projeto Homem que é Homem

Publicado em: 23 de maio de 2019
Texto: Secretaria de Comunicação
Imagem: Psicólogas e assistentes sociais da Secretaria de Desenvolvimento Social e Trabalho (SEMDS) da Prefeitura de Aracruz se uniram à Polícia Civil e ao Judiciário com a missão de reduzir o índice de reincidência de violência contra a mulher no município
Elas estão desconstruindo o patriarcado: conheça o projeto Homem que é Homem

Texto: Daniel Marçal e Luã Quintão

Psicólogas e assistentes sociais da Secretaria de Desenvolvimento Social e Trabalho (SEMDS) da Prefeitura de Aracruz se uniram à Polícia Civil e ao Judiciário com a missão de reduzir o índice de reincidência de violência contra a mulher no município. Através do projeto Homem que é Homem elas organizam encontros semanais com pessoas do sexo masculino que supostamente cometeram algum tipo de violência doméstica.

De acordo com a SEMDS esses homens chegam até o projeto a partir de determinações judiciais, ou seja, são pessoas que foram denunciadas e cumprem medidas protetivas. “Atualmente, sempre que é expedida alguma medida protetiva eles já são intimados a participar do projeto, o que diferencia dos outros municípios onde a participação é opcional”, explica a secretária de desenvolvimento social e trabalho, Rosilene Felipe dos Santos Matos,

Em vigor desde novembro de 2018, atualmente o projeto está em seu quarto ciclo e já recebeu 41 intimações, sendo que 36 homens foram atendidos. Os cinco desistentes foram encaminhados para medidas judiciais cabíveis à 2ª Vara Criminal do Fórum de Aracruz.

Refletir e desconstruir
As psicólogas Beatris Bressanelli, Maura Rubia Del Caro, e as assistentes sociais Jaiane Loureiro S. Martins, Maria Fernandes Ribeiro e Walesca da Penha Fisch, são as mulheres que semanalmente se encontram com um grupo de 12 homens e desenvolvem metodologias que geram reflexão e desconstrução de paradigmas da cultura patriarcal. O projeto também conta com o apoio da delegada titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, Drª Amanda da Silva Barbosa e juízes.

A metodologia de trabalho do projeto Homem que é Homem no município de Aracruz acontece em ciclos compostos por 08 encontros semanais. Os encontros são vistos como círculos reflexivos, onde além de ouvir a respeito de diversos temas, eles também falam o que sentem e pensam. “É um espaço de fala e escuta para homens”, define uma das assistentes sociais.

Nos primeiros encontros a equipe desenvolve um questionário com perguntas que fazem com que eles demonstrem a percepção pessoal sobre o que é violência contra a mulher, além de revelarem contextos da própria vida e relações conjugais e familiares. A partir do que é dito, a equipe passa a levantar temas geradores que serão trabalhados nos encontros posteriores. Os assuntos, no entanto, seguem a risca o foco na desconstrução de ideias sexistas e machistas, a fim de estimular formas pacíficas de lidar com os conflitos.

“Também estamos fazendo uma parceria com o judiciário com a participação do Drº Diego, e da Drª Bruna, que trazem questões que falam do machismo dentro da legislação, e o quadro de violência contra a mulher no município”, disse Walesca da Penha Fisch, assistente social do projeto.

Foco no agressor


A titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, Amanda da Silva Barbosa, explica que os crimes que acontecem com maior freqüência no município são o de ameaça, com 161 casos registrados em 2019 e lesão corporal qualificado pela violência doméstica e familiar, com 26 casos registrados. Ela destaca que mesmo a Lei Maria da Penha completando 13 anos, ainda é muito grande o número de violência doméstica e familiar contra a mulher em Aracruz.

Sobre o projeto “Homem que é Homem”, a delegada participa de um dos cinco encontros com esses homens, aonde ela fala sobre os tipos de violência doméstica e familiar, além de tirar dúvidas sobre a aplicação da Lei Maria da Penha. Ela acredita que por meio desse grupo reflexivo os homens que praticaram violência doméstica são estimulados a rever ideias sexistas e machistas, contemplando as relações de gênero e buscando formas pacíficas de lidar com conflitos, reduzindo assim reincidência desses crimes.

“Acredito que a maior importância do projeto se encontre no fato de ele focar no agressor, tentando auxiliá-lo a mudar a maneira de encarar as relações de gênero e assim reduzir os conflitos em suas relações domésticas e afetivas. Como o projeto ainda é muito recente não temos dados estatísticos, mas acredito que ele nos ajudará na redução da reincidência, já que a maioria dos casais que passam por conflitos familiares não chegam a romper a relação, e mesmo quando rompem precisam continuar mantendo convívio em virtude dos filhos comuns”, disse a delegada.

A cultura do patriarcado
A assistente social da Prefeitura de Aracruz, Jaiane Loureiro da Silva Martins, explica que a cultura do patriarcado é aquela onde a figura masculina exerce função de autoridade na família, na política e no meio social em que vive e que ela surgiu com o advento da família e consequentemente com a formação da sociedade. Além disso, Jaiane ainda destaca que atualmente o patriarcado existe de forma velada, como uma das formas de machismo, onde a mulher é subjugada pelo simples fato de ser mulher e ser considerada inferior ao homem.

“Para desconstruir a cultura do patriarcado em nossa sociedade, acredito que somente através da educação intrafamiliar e nas instituições de ensino. O objetivo do projeto Homem que é Homem é em consonância com a Lei Maria da Penha, promovendo e viabilizando novas formas de relações interpessoais no espaço doméstico e familiar. Além disso, ele contribui para a prevenção e para a redução da violência de gênero, bem como, sensibilização desses homens, favorecendo a mudança relacionada à discriminação da Mulher”, disse a assistente social.

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