II Encontro da Ação Saberes Indígenas na Escola discute produção dos materiais pedagógicos do território dos povos originários de Aracruz, a Educação Escolar e as Políticas de Resistência

Publicado em: 13 de outubro de 2025
Texto: Renato Lana de Faria
Imagem: Divulgação
II Encontro da Ação Saberes Indígenas na Escola discute produção dos materiais pedagógicos do território dos povos originários de Aracruz, a Educação Escolar e as Políticas de Resistência

Aconteceu na manhã deste sábado (11), na Escola Municipal de Ensino Fundamental Indígena (Emefi) Arandu Retxakã, aldeia Três Palmeiras, mais uma das etapas da formação continuada que é desenvolvida com os professores indígenas que fazem parte do projeto Ação Saberes Indígenas na Escola (Asie/Secadi/MEC) do Núcleo Ufes. Estiveram presentes o diretor e o pedagogo da escola Mauro Guarani e Geferson Pereira Marques, além da coordenadora e professora Dra. Ozirlei Teresa Marcilino (CE/Ufes).

Durante o encontro, a doutoranda em Educação Géssica Gonçalves Martins e a doutora em Educação Ana Paula Careta, ambas licenciadas em matemática, apresentaram o produto educacional de suas teses, o Repositório Multimodal Teceres. Já o professor indígena do Instituto Federal da Bahia (IFBA), Dr. Édson Kayapó, abordou a Educação Escolar Indígena e as Políticas de Resistência.

Antes mesmo das apresentações, houve um momento de falas dos anciãos Eunício (Tupinikim) e Josias (Guarani), que deram as boas vindas aos presentes. Também foi apresentado o Edital PROGRAD (20/2025) da Ufes para as inscrições do Processo Seletivo Simplificado dos cursos de Licenciatura Intercultural Indígena e Pedagogia Intercultural Indígena, para ingresso no primeiro semestre do ano letivo de 2026, cujas as inscrições se encerram no dia 16 de outubro deste ano.

Em seguida, a professora da Ufes, Ozirlei Teresa Marcilino, explicou os objetivos de mais uma etapa da formação. “Vocês professores tiveram até o mês de agosto um período para finalizar os cadernos de orientações pedagógicas dos materiais produzidos até então, e agora, estamos na fase de organização e diagramação para posteriormente publicarmos. Precisamos continuar nosso trabalho pensando na formação de vocês e como fazer de forma cada vez mais articulada a Ação Saberes Indígenas nas Escolas e os Saberes Tradicionais”, disse.

Ainda de acordo com Ozirlei, são os professores indígenas que fazem o programa existir. “O programa existe por causa de vocês, e por isso precisamos dessa interlocução entre os saberes dos povos tradicionais, a escola e o saber científico-acadêmico, ou seja, como levar e trabalhar com as crianças indígenas essa questão dentro das instituições de ensino. Estamos aqui hoje para nos reunir e apreciar a apresentação do Repositório Multimodal, que foi uma demanda trazida por vocês”, disse.

Em seguida, Géssica e Ana Paula, também formadoras da Asie, expuseram o repositório. “Esse repositório é um produto educacional coletivo dos nossos trabalhos de doutorado e de pesquisa. Nele ficam disponibilizados os materiais pedagógicos do território dos povos originários de Aracruz. Ele nasce das muitas falas dos indígenas. É muito importante termos esse repositório, um lugar na Universidade, como na Ufes, para que esses materiais produzidos tenham um lugar seguro para ficar. Esse estudo ainda está em construção, e por isso pensamos em mostrar para vocês, pois ainda podemos alterá-los”, explicaram.

Finalizando, em uma roda de conversa, o professor de História Indígena do Instituto Federal da Bahia (IFBA), Édson Kayapó, falou da Educação Escolar Indígena e das Políticas de Resistência. “Fiquei muito feliz quando surgiu esse convite. Sei que em Aracruz também existe esse movimento da Ação Saberes Indígenas, que é uma formação continuada com/para professores indígenas. Venho falar da educação que nós, povos indígenas queremos, tanto do ponto de vista da formação inicial, quanto da continuada, que é o caso aqui”, comentou.

Segundo Édson, a proposta da educação escolar indígena é uma proposta diferenciada. “Historicamente, antes mesmo do estado brasileiro surgir, a coroa portuguesa implantou nos territórios indígenas uma educação totalmente descontextualizada, que não respeitava nossas línguas, nossas cosmologias e as organizações próprias dos povos. Esse formato autoritário vigorou por séculos. E a partir da década de 70 do século passado, os povos indígenas começaram a anunciar a urgência da necessidade de uma educação que respeitasse nosso jeito de organizar e pensar as coisas e conceber o mundo. É essa educação que estamos construindo com a formação de hoje”, completou.

“A Ação Saberes Indígenas na Escola tem dez anos e já produziu com os professores do território de Aracruz seis materiais pedagógicos. Em 2025 ainda haverá a publicação de mais quatro produções”, finalizou a professora da Ufes, Ozirlei Teresa Marcilino.

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