Aconteceu nesta quarta-feira (28), no auditório do Sesc, Centro, a palestra “Trajetórias do Africano no Território Brasileiro”. Ela foi proferida pelo professor, historiador e pesquisador Natanael dos Santos e contou com a participação do Quinteto Griô Educacional. O prefeito Dr. Coutinho e a secretária de Educação (Semed) Jenilza Spinassé compareceram ao evento e deixaram uma mensagem a centenas de estudantes que foram prestigiar.

“É com imensa alegria que estamos aqui hoje para tratar de uma questão de grande importância para os mais de 16 mil estudantes da nossa rede. Por meio de uma parceria com a Griô Educacional, vocês poderão reconhecer a importância de respeitarmos todas as diferenças e valorizarmos o que cada um tem a contribuir para termos uma sociedade melhor. O professor Natanael veio falar sobre o que é ser humano, independente de nossa crença, cor ou crédulo. Precisamos reconhecer e respeitar essas diferenças. Tenho certeza que esses jovens e seus professores sairão daqui com uma visão diferente”, destacou Jenilza.

Dr. Coutinho, para realçar a importância de se reconhecer as diversidades, lembrou de suas origens. “É com grande satisfação que recebemos hoje em nossa cidade o professor Natanael e o Griô Educacional para discutirmos as trajetórias do africano em nosso país. Este é um tema que nos convida a refletir sobre as riquezas de nossa história e a contribuição inestimável da cultura africana para a formação de nossa identidade. Eu, por exemplo, sou filho de pai português branco e de mãe afrodescendente, e por isso, tive irmãos com cor de pele variadas. Tenho orgulho da minha origem, quando na infância brincava com os indígenas. Temos que respeitar as pessoas, independente de como elas sejam. Que esse encontro seja um momento de aprendizado, reflexão e de celebração da diversidade”, enfatizou.

Após as falas das autoridades, antes mesmo de se iniciar a palestra, o público pôde apreciar uma bela apresentação cultural com o coral Guarani. Sob a regência do Cacique Pedro, eles tocaram e cantaram, na língua nativa, uma música sobre a natureza e a devastação que ela vem sofrendo pela interferência da ação humana.

A verdadeira história do negro

O Professor Natanael dos Santos iniciou sua apresentação falando sobre a verdadeira história do negro e a trajetórias do africano no território brasileiro. Ele, que em 2019 ganhou o Leão de Ouro, considerado o Oscar da literatura brasileira, compartilhou o prêmio com o público presente, com o qual interagiu tocando um instrumento feito de castanha, o “Agogô”. Em seguida, chamou um aluno para subir ao palco e ensiná-lo a técnica da batida.

Em sua palestra, Natanael explicou as diferenças físicas no humano, mostrando que o preconceito com a cor da pele, forma do corpo, além da cultura ou crença, vem da falta de informação. “Todos nós somos diferentes. Eu tenho 68 anos, sou da etnia preta e da raça humana. Meu cabelo é crespo, minha pele é escura, meu nariz baixo e minha boca é grande, porque na África as temperaturas são muito elevadas, chegando a 50º. Todas essas minhas características são formas de nos adaptarmos ao meio, uma proteção”, explicou.

Natanael também lembrou que na sua infância sofria muito preconceito pela cor de sua pele e características físicas por ser negro. “Lembro que na escola as pessoas riam do meu cabelo, por ele ser crespo (carapinha). O preconceito existe até hoje, mesmo nós vivendo em um país com a segunda maior população negra do planeta, sendo 56% das pessoas, ficando atrás somente da Nigéria”, disse.

Paralelamente às suas falas, o Quinteto Griô contava a história dos instrumentos musicais com cordas friccionadas, como a viola de gamba e a viola de arco, que surgiram na Etiópia e depois foram para a Europa, onde foi criado o violino e o violoncelo, por exemplo. No final de sua palestra, ele chamou dezenas de estudantes ao palco, onde juntos, tocaram vários instrumentos.